salto alto scarpin
Sabe aquelas noites de verão, você não consegue dormir? Sabe quando um vulto passa correndo por você, naquela caminhada pelo calçadão da praia, ninguém mais nas ruas, tarde demais pra se estar nas ruas, mesmo sendo verão, mesmo estando de férias? Começo de temporada ainda. Pois é. Um vulto passou por mim, uma moço loira, não muito alta nem muito baixa, parecia usar uma calça capri – acho que é assim que chamam aquelas calças que ficam na altura da canela das moças. Uma cala capri mal costurada.
Ela estava com uma blusa de lã em pleno verão, em pleno calçadão. E usava sapatos de salto alto. Scarpin, isso sim, assim que chamam esse sapato. Chamam de scarpin. Ela estava andando com seus cabelos loiros, loirinhos, agora os vejo bem, eram loiros. Fios dourados naquele céu azul estrelado de uma noite de verão, mas fora de temporada. Por isso a praia estava vazia, na verdade.
Certos detalhes, me perdoem, não posso descrever. A moça era muito linda e a noite muito quente e o sono que não vinha. Tudo isso me alucinou um pouco. Me desculpem, leitores, no caso de eu me perder um pouco na história. Confesso que não é do meu feitio ficar correndo atrás de moças lindas e de scarpin no calçadão da praia. Mas eu o fiz. Corri atrás dela. Queria saber se era real. ela entrou no ônibus. Entrei também.
Ela sentou-se ao fundo. Não me atrevi a sentar-me ali também. Seria quase um pecado sentar ao lado dela, sentir o perfume de seus fios cor de mel e não poder sequer perguntar-lhe o nome. Um ultraje, eu diria. Um ultraje. Sentei-me afastado então, do outro lado duas jovens senhoras muito bem arrumadas conversavam sobre o que tinham perdido de suas juventudes por conta da rudeza de seus respectivos pais.
Elas estavam indo a uma festa, suponho eu. Uma festa de alguém conhecido, mas nada íntimo. Nada muito apronfundado. Era uma festa como em resposta daqueles tempos dourados – como os cabelos daquela bela moça logo atrás de mim – que haviam se perdido. Elas mal sabiam em qual ponto parar. Era uma festa sem importância para elas. Pelo que pude perceber, uma estava solteira a pouco tempo. Era bonita para a idade.
Olhei para trás de rabo de olho. Foi nesse momento que percebi o scarpin e a calça capri. Parecia que ela tinha saído de uma realidade paralela da minha, eu de bermudão, regata e chinelo de dedo. Ela tão linda numa praia, começo de verão, bem fora de temporada. Parecia fugir, segurava a bolsa com afinco, com vontade. Sua blusa de lã, listrada com tons de rosa diferentes. Muito perfeita para o momento. Levante-me. Sentei-me a seu lado. O perfume irresistível de seus cabelos invadiu minhas narinas e encheu meus pulmões. Perguntei-lhe o nome. Ela permaneceu calada.
Perguntei-lhe muitas coisas. Nunca respondeu nada. Apenas pegou minha mãe, levantou-se, me levou com ela. Me levou com ela, sempre com ela. Quando percebi, não poderia viver mais sem ela. A moça tinha assassinado minha vida, meus sonhos, meu respirar, tudo o que era meu não era mais. Nem minhas memórias eu tenho. Tenho apenas ela. Ela segura minha mão e tudo fica bem. Fica bem.
Ela estava com uma blusa de lã em pleno verão, em pleno calçadão. E usava sapatos de salto alto. Scarpin, isso sim, assim que chamam esse sapato. Chamam de scarpin. Ela estava andando com seus cabelos loiros, loirinhos, agora os vejo bem, eram loiros. Fios dourados naquele céu azul estrelado de uma noite de verão, mas fora de temporada. Por isso a praia estava vazia, na verdade.
Certos detalhes, me perdoem, não posso descrever. A moça era muito linda e a noite muito quente e o sono que não vinha. Tudo isso me alucinou um pouco. Me desculpem, leitores, no caso de eu me perder um pouco na história. Confesso que não é do meu feitio ficar correndo atrás de moças lindas e de scarpin no calçadão da praia. Mas eu o fiz. Corri atrás dela. Queria saber se era real. ela entrou no ônibus. Entrei também.
Ela sentou-se ao fundo. Não me atrevi a sentar-me ali também. Seria quase um pecado sentar ao lado dela, sentir o perfume de seus fios cor de mel e não poder sequer perguntar-lhe o nome. Um ultraje, eu diria. Um ultraje. Sentei-me afastado então, do outro lado duas jovens senhoras muito bem arrumadas conversavam sobre o que tinham perdido de suas juventudes por conta da rudeza de seus respectivos pais.
Elas estavam indo a uma festa, suponho eu. Uma festa de alguém conhecido, mas nada íntimo. Nada muito apronfundado. Era uma festa como em resposta daqueles tempos dourados – como os cabelos daquela bela moça logo atrás de mim – que haviam se perdido. Elas mal sabiam em qual ponto parar. Era uma festa sem importância para elas. Pelo que pude perceber, uma estava solteira a pouco tempo. Era bonita para a idade.
Olhei para trás de rabo de olho. Foi nesse momento que percebi o scarpin e a calça capri. Parecia que ela tinha saído de uma realidade paralela da minha, eu de bermudão, regata e chinelo de dedo. Ela tão linda numa praia, começo de verão, bem fora de temporada. Parecia fugir, segurava a bolsa com afinco, com vontade. Sua blusa de lã, listrada com tons de rosa diferentes. Muito perfeita para o momento. Levante-me. Sentei-me a seu lado. O perfume irresistível de seus cabelos invadiu minhas narinas e encheu meus pulmões. Perguntei-lhe o nome. Ela permaneceu calada.
Perguntei-lhe muitas coisas. Nunca respondeu nada. Apenas pegou minha mãe, levantou-se, me levou com ela. Me levou com ela, sempre com ela. Quando percebi, não poderia viver mais sem ela. A moça tinha assassinado minha vida, meus sonhos, meu respirar, tudo o que era meu não era mais. Nem minhas memórias eu tenho. Tenho apenas ela. Ela segura minha mão e tudo fica bem. Fica bem.