O beijo de Chico e a careca de Severino
Milton Coelho da Graça - http://www.comunique-se.com.br
Chico Buarque de Holanda é uma das raras unanimidades nacionais como referência indiscutível da cultura, da ética e da resistência democrática em nosso país. Por isso, qualquer jornalista reflete bem se publica foto e/ou notícia em que ele seja o protagonista de um beijo amoroso em lugar público.
A Folha viveu uma experiência rara. Começou a rodar a edição desta quarta-feira (2/3) mas, duas horas depois, a secretária de plantão, Suzana Singer, teve aquela rara oportunidade de dar o mais famoso grito nas redações do mundo: “Parem as máquinas”. E mandou retirar a foto da coluna de Mônica Bergamo, na segunda página da Folha Ilustrada, em que Chico aparecia dando uma beijoca numa jovem senhora, em plena praia do Leblon, no Rio. Sérgio Cabral, que entende tudo de Chico e de todas as outras grandes figuras da música popular brasileira, garante que ele está "levando" um beijo. Mas cada um pode dar sua interpretação dando uma olhada nas revistas Quem e Contigo que ainda forem encontradas nas bancas.
Marcelo Beraba, ombudsman do jornal, pediu e Suzana explicou: "Decidimos tirar a foto quando recebemos a informação de que a mulher, casada, tem filhos pequenos. Entre atender a curiosidade pública e expor crianças a possíveis situações vexatórias, optamos pela não publicação. A intenção não foi proteger Chico Buarque".
Interessante a decisão de Suzana. Se sua tese fosse aplicada com rigor, a Folha não deveria publicar nenhuma foto de pessoas detidas pela polícia ou suspeitos de qualquer ação censurável, antes de saber se eles têm ou não filhos menores.
O editor-executivo do Estadão, Roberto Gazzi, foi curto e firme: "Entendemos que Chico Buarque, por sua história, é e será sempre um grande tema jornalístico. E no caso, sendo uma figura pública e fotografado num local público, não consideramos que tenha havido uma invasão de privacidade."
Os jornais Agora e Diário de S. Paulo, voltados para o público das classes B e C, abriram a foto na primeira página e, segundo me informaram, sem vacilações ou reflexões. O princípio foi simples: Chico é celebridade, tudo que ele faz e diz é notícia. E ainda mais em plena praia.
Mas Beraba dá uma opinião contrária: concorda com a decisão da colega Suzana Singer e afirma: "Achei correta a decisão de suprimir a foto. E continuo questionando o interesse de jornais como a Folha e o Estado em casos como esses em que não existe qualquer relevância, exceto a curiosidade" (o grifo é meu). Mais adiante, Beraba abandona esse tom quase peremptório e prefere indagar: "... jornais que se pretendem sérios, formadores de opinião, como a Folha e o Estado, como devem se comportar? A resposta não é fácil."
Realmente não é fácil. E é preciso levar em conta que tanto os dois jornalões paulistas como o carioca Globo, o mineiro Estado de Minas, o gaúcho Zero Hora e os de outros estados têm colunas de frivolidades e casos como esses em que não existe qualquer relevância, exceto a curiosidade.
Mônica Bergamo, por exemplo – de cuja coluna a secretária de redação "cassou" a indiscrição sobre Chico – fez uma reportagem sobre intimidades do ministro Gilberto Gil preparando-se para um show, incluindo depilação, e, neste mesmo domingo (6/3), a revelação de que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, sempre passa na careca a legítima Água de Colônia (Kolnisch Wasser 1711).
Afirmo, sem o menor constrangimento, que gosto muito de todas as colunas e matérias de Mônica – especialmente os detalhes não-relevantes e apenas dirigidos à minha curiosidade. Jornalistas e leitores não são, no fim das contas, os maiores curiosos da espécie humana? Perguntinha final: se você fosse secretário da Folha mandaria parar a rotativa?
Chico Buarque de Holanda é uma das raras unanimidades nacionais como referência indiscutível da cultura, da ética e da resistência democrática em nosso país. Por isso, qualquer jornalista reflete bem se publica foto e/ou notícia em que ele seja o protagonista de um beijo amoroso em lugar público.
A Folha viveu uma experiência rara. Começou a rodar a edição desta quarta-feira (2/3) mas, duas horas depois, a secretária de plantão, Suzana Singer, teve aquela rara oportunidade de dar o mais famoso grito nas redações do mundo: “Parem as máquinas”. E mandou retirar a foto da coluna de Mônica Bergamo, na segunda página da Folha Ilustrada, em que Chico aparecia dando uma beijoca numa jovem senhora, em plena praia do Leblon, no Rio. Sérgio Cabral, que entende tudo de Chico e de todas as outras grandes figuras da música popular brasileira, garante que ele está "levando" um beijo. Mas cada um pode dar sua interpretação dando uma olhada nas revistas Quem e Contigo que ainda forem encontradas nas bancas.
Marcelo Beraba, ombudsman do jornal, pediu e Suzana explicou: "Decidimos tirar a foto quando recebemos a informação de que a mulher, casada, tem filhos pequenos. Entre atender a curiosidade pública e expor crianças a possíveis situações vexatórias, optamos pela não publicação. A intenção não foi proteger Chico Buarque".
Interessante a decisão de Suzana. Se sua tese fosse aplicada com rigor, a Folha não deveria publicar nenhuma foto de pessoas detidas pela polícia ou suspeitos de qualquer ação censurável, antes de saber se eles têm ou não filhos menores.
O editor-executivo do Estadão, Roberto Gazzi, foi curto e firme: "Entendemos que Chico Buarque, por sua história, é e será sempre um grande tema jornalístico. E no caso, sendo uma figura pública e fotografado num local público, não consideramos que tenha havido uma invasão de privacidade."
Os jornais Agora e Diário de S. Paulo, voltados para o público das classes B e C, abriram a foto na primeira página e, segundo me informaram, sem vacilações ou reflexões. O princípio foi simples: Chico é celebridade, tudo que ele faz e diz é notícia. E ainda mais em plena praia.
Mas Beraba dá uma opinião contrária: concorda com a decisão da colega Suzana Singer e afirma: "Achei correta a decisão de suprimir a foto. E continuo questionando o interesse de jornais como a Folha e o Estado em casos como esses em que não existe qualquer relevância, exceto a curiosidade" (o grifo é meu). Mais adiante, Beraba abandona esse tom quase peremptório e prefere indagar: "... jornais que se pretendem sérios, formadores de opinião, como a Folha e o Estado, como devem se comportar? A resposta não é fácil."
Realmente não é fácil. E é preciso levar em conta que tanto os dois jornalões paulistas como o carioca Globo, o mineiro Estado de Minas, o gaúcho Zero Hora e os de outros estados têm colunas de frivolidades e casos como esses em que não existe qualquer relevância, exceto a curiosidade.
Mônica Bergamo, por exemplo – de cuja coluna a secretária de redação "cassou" a indiscrição sobre Chico – fez uma reportagem sobre intimidades do ministro Gilberto Gil preparando-se para um show, incluindo depilação, e, neste mesmo domingo (6/3), a revelação de que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, sempre passa na careca a legítima Água de Colônia (Kolnisch Wasser 1711).
Afirmo, sem o menor constrangimento, que gosto muito de todas as colunas e matérias de Mônica – especialmente os detalhes não-relevantes e apenas dirigidos à minha curiosidade. Jornalistas e leitores não são, no fim das contas, os maiores curiosos da espécie humana? Perguntinha final: se você fosse secretário da Folha mandaria parar a rotativa?